Cartas Mensais

Mário Jorge Simões - Mestre em Engenharia Física e Product Manager na Bosch

Pollux - Space Technologies, TOP 10 melhores projetos de investigação operacional

Olá, se estás a ler isto, parabéns! Decerto serás um excelente (Engenheiro) Físico se seguires as dicas que eu e os restantes colegas expomos nestas cartas.

Eu sou o Mário Jorge Simões, tenho 23 anos e estudei Engenharia Física na Universidade de Coimbra (UC). Atualmente sou Product Manager na Bosch e vou partilhar contigo um pouco do meu percurso.

O interesse pela física, eletrónica e programação começou a crescer durante o secundário, levando-me a escolher um curso que englobasse estas áreas. Assim, iniciei os meus estudos em Engenharia Física na UC. Desde cedo percebi a importância de desenvolver competências além do currículo académico e de trabalhar as soft skills. No segundo ano da licenciatura, juntei-me à Physis onde, no departamento de saídas profissionais, tive a oportunidade de coordenar o projeto Physis Opportunities, entrevistar profissionais de sucesso e organizar congressos científicos como o “Give me more SPACE” e o “Give me more QUANTUM”.  

No mestrado, continuei em Engenharia Física, onde escolhi cadeiras como inteligência artificial, robótica e gestão de qualidade, fundamentais para o meu desenvolvimento. De facto, este é um

curso muito versátil mas exigente onde a resiliência é fundamental mas acima de tudo permite a cada um
percorrer o seu próprio caminho. Além disso, decidi ter um primeiro contacto com o mundo empresarial juntando-me a um grupo de colegas para desenvolver a Pollux – Space Technologies, com o objetivo de ser uma Júnior Empresa pioneira no setor aeroespacial em Portugal. Saí da minha zona de conforto para aprender gestão financeira, preparar estudos de viabilidade e obter fundos para o
nosso primeiro projeto, o Thestias, um balão estratosférico que media a temperatura, a pressão, a
humidade e a sua localização através de georreferenciação. Após um ano nesta posição, a equipa deu-me a oportunidade e o privilégio de liderar o departamento de projetos para coordenar as operações, preparar uma mudança estrutural de modo a trabalharmos em vários projetos

de engenharia em simultâneo e a ter reuniões com clientes como a EFACEC e o LIP, onde devo referir que foi uma das fases de maior desenvolvimento que tive em todo o meu percurso, ao conseguir motivar, gerir e liderar uma equipa de mais de 20 elementos em prol de objetivos comuns.

No último ano de mestrado, trabalhei num projeto de investigação com a Stellantis, onde a minha tese
se inseriu. Desenvolvi algoritmos de otimização em Python para automatizar os armazéns da fábrica
em Mangualde, um projeto que me deu grande orgulho e foi reconhecido tanto academicamente, com
20 valores, como no congresso IO2024, nomeado nos Top10 melhores projetos de investigação
operacional desenvolvidos em 2023.

Desde o início de 2024, tenho o papel de Product Manager na Bosch

onde tenho trabalhado na definição da estratégia para produtos de aquecimento de água e estou a desenvolver um sistema de gestão de portfólio. Além disso, lidero uma equipa de 10 elementos num projeto de brand switch. Estes desafios só foram possíveis graças às competências adquiridas ao longo do meu percurso.

A minha principal sugestão para ti, que estás a iniciar ou já percorres o teu caminho universitário, é
não te cingires ao currículo do curso. Envolve-te em projetos, Júnior Empresas, estágios de verão em
empresas ou centros de investigação. Explora as tuas capacidades e sai da tua zona de conforto.
Outro fator imprescindível é o networking, que te abrirá muitas portas para o teu futuro!

Desejo-te muito sucesso e fico a torcer por ti…

Rita Albergueiro - Mestre em Física Médica

Investigação no IPO, Medicina Nuclear no Centro Hospitalar Universitário de Santo António

Futuros físicos,

O meu nome é Rita Albergueiro e tenho 24 anos. Concluí a licenciatura em Física em 2021 e o mestrado em Física Médica em 2023, ambos na Faculdade de Ciências do Porto (FCUP). 

Desde pequena que acho física fascinante, talvez porque nunca me contentei com as respostas “Porque sim/não.”. Sempre tive a necessidade de perceber a origem e razão, não só do nosso planeta e do que o rodeava, mas também de fenómenos simples que ocorrem no nosso dia a dia. Física deu-me muitas dessas respostas apesar de algumas permanecerem por esclarecer, sendo um constante desafio que gosto de ter ao longo dos meus estudos e, possivelmente, na minha carreira. Por outro lado, a saúde também foi sempre uma área que me interessou. Provavelmente, por dar algum sentido à evolução tecnológica, o famoso sentimento de ajudar alguém.

A escolha de ingressar no ensino superior e seguir uma licenciatura em física foi a minha forma de iniciar um novo desafio, sem a pressão de fazer uma escolha específica para o resto da minha vida. A ideia de escolher uma profissão “para o resto da vida” sempre me pareceu assustadora. No entanto, como física, tenho a flexibilidade de explorar diversas áreas e mudar de direção à medida que o tempo passa. Curiosamente, no final do primeiro ano da licenciatura, já havia decidido que o mestrado em Física Médica era o caminho ideal para mim, e até agora, não me arrependo das escolhas que fiz.

Na conclusão do meu mestrado, nomeadamente na realização da minha dissertação, surgiu a oportunidade de realizar um estágio curricular e, simultaneamente, desenvolver a minha tese no serviço de Medicina Nuclear

do Centro Hospitalar Universitário do Santo António. Durante o estágio, estive envolvida no tratamento designado por radioembolização hepática com microesferas de hólmio usado para o tratamento de tumores no fígado. Contudo, também adquiri conhecimentos sobre outros tratamentos que envolvem diferentes radiofármacos. Além disso, ganhei experiência prática no uso de softwares modernos de dosimetria em Medicina Nuclear e trabalhei com Python e R, o que me proporcionou uma sólida capacidade de análise estatística.

De modo a aprofundar os meus conhecimentos e contribuir para a investigação nesta área, estou também inscrita no centro de investigação do IPO. A realização da tese funcionou como uma injeção de motivação, não apenas para colocar as mãos na 

massa, mas  igualmente para explorar soluções inovadoras e aprimorar a qualidade dos tratamentos.

Em setembro do ano passado, comecei a trabalhar como Física Médica no Centro Hospitalar Universitário do São João, e estou extremamente entusiasmada por entrar no mercado de trabalho e contribuir ativamente para a minha área.

Por fim, gostaria de dizer que, ao resumir estes cinco anos num pequeno texto, é claro que destaco os melhores momentos e conquistas, mas também houve muitas “lágrimas e suor” ao longo do caminho. A física não é um curso fácil e não vou negar isso. É um desafio constante que nos leva aos limites e nos faz questionar muitas coisas. No entanto, é exatamente isso que expande a nossa  mente e  nos

faz raciocinar como nunca antes. Além disso, a sensação de orgulho ao superar cada desafio é indescritível.

Para concluir, gostaria apenas de salientar que é completamente normal questionares as tuas capacidades e teres dúvidas ao longo do curso. No entanto, é importante lembrar que o que tu estás a vivenciar é algo que todos os teus colegas também estão a enfrentar. Portanto, dedica-te aos estudos, aprende, relaxa, conhece gente nova, sai, bebe umas jolas, diverte-te e, acima de tudo, aproveita ao máximo esta fase da tua vida. Vais olhar para trás e lembrar estes momentos com muito carinho e saudade.

Atenciosamente,

Rita Albergueiro.

João Horta Belo - Doutor em Física e Investigador Júnior

Escola de Verão do CERN, Investigador Júnior, Matéria Condensada

Foi com particular prazer que aceitei o desafio lançado pela Beatriz da PHYSIS para escrever esta carta de um ex-aluno neste ano em que se completam 20 anos desde a minha matrícula no curso de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Corria o ano de 2004 (ano em que talvez muitos dos membros da PHYSIS ainda não seriam nascidos!) quando, primeiro me decidi pelo curso e, depois, me matriculei. Na altura, infelizmente, o curso de Física não gozava de tanta afluência como hoje em dia e lembro-me que o número de alunos matriculados foi inferior ao numerus clausus pré-definido. A escolha por Física não foi óbvia e na verdade surgiu apenas nos últimos meses do 12º ano, muito por influência da minha… Professora de Química – era uma excelente Professora e, para além da Química, tinha um namoro secreto pela Física que partilhava connosco depois do toque para o fim das aulas. Resumindo, diria que não era, na altura, um geek da física.

  O primeiro ano curricular foi claramente um ano de habituação a todas as novidades, do conteúdo das cadeiras ao método de estudo e organização. Neste período, como noutros ao longo da minha formação, foram tão fundamentais os meus Professores como foram os meus colegas no processo de aprendizagem. Ao longo dos anos da licenciatura e muito por culpa da beleza que fui encontrando em tantas leis físicas (da conservação de energia, as equações de Maxwell, equações da Termodinânica) foi crescendo a paixão e a ilusão de querer saber mais, de querer explorar com maior profundidade. No final da licenciatura e, pela mão do Professor João Pedro Araújo, tive a oportunidade de participar na Escola de Verão do CERN – uma experiência que recomendo a todos e que guardo com um carinho especial – onde despontou o meu interesse pela… Física da Matéria Condensada (é verdade! No CERN também se investiga a matéria

condensada) e pelo laboratório! Assim, foi fácil a escolha do Mestrado, em Física Experimental, também na FCUP. Logo a começar o mestrado tive a oportunidade de estudar na Radboud University, em Nijmegen na Holanda, durante um semestre ao abrigo do programa ERASMUS – outra recomendação muito forte para todos os que tiverem oportunidade de fazer. Aqui surgiu a paixão pelo Magnetismo, reforçada mais tarde pela escolha da tese de Mestrado  – materiais magnetocalóricos – orientado pelo Professor João Pedro Araújo. A paixão foi tal que foram também estes materiais fascinantes o objecto de estudo da minha tese de doutoramento e ainda ocupam grande parte do meu tempo…e admiração. Durante a minha tese de doutoramento tive a oportunidade de realizar várias estadias científicas no INA em Saragoça, no Imperial College em Londres ou no Ames Lab, no Iowa que me marcaram pessoal e cientificamente.

Defendi o meu doutoramento em 2017. Entre 2017 e 2019 fiz um post-doc na Universidade de Aveiro e posteriormente voltei à minha alma matter em 2019 como Investigador Júnior – posição que ocupo actualmente. Se pode parecer óbvio como a minha formação contribuiu para o meu percurso profissional até hoje acho que nem por isso é um exercício obsoleto elencar as capacidades que me permitiu aprofundar: a curiosidade e a honestidade intelectual – só sendo verdadeiros connosco próprios conseguimos perceber o que não percebemos e esse é o primeiro passo para a pesquisa; a capacidade de organização e de trabalho; o trabalho em equipa – uma das coisas mais bonitas é que há muitos perfis de “Físicos” diferentes – dos teóricos aos experimentalistas, dos que  gostam de modelos aos que dominam os equipamentos e métodos de medição… – e todos os perfis são igualmente válidos e 

igualmente necessários; e a resiliência – na Ciência ouvimos muitos “nãos” e é preciso termos confiança em nós mesmos e nas nossas ideias para não esmorecer com os “nãos” que muitas vezes são apenas circunstanciais.

  Quando olho agora para trás penso nos conselhos que daria ao meu “Eu” de há 20 anos – que são os mesmos que tento transmitir aos meus alunos agora – e há uns quantos muito óbvios: i) tentem aproveitar ao máximo o vosso tempo de formação e façam o maior número de perguntas que conseguirem; ii) aproveitem todas as oportunidades para frequentarem escolas/workshops/conferências em Portugal (como por exemplo as actividades promovidas pela PHYSIS) e no estrangeiro (existem várias oportunidades de financiamento); iii) experimentem diferentes áreas, mas depois escolham a que mais vos alicia e sigam o vosso caminho com confiança!!

Magda Amorim - Mestre em Engenharia Física e Business Analyst na Smartex AI

Bolsa Gulbenkian ‘Novos Talentos 2022’, Data & Business Analyst na Smartex AI

  Olá! O meu nome é Magda Amorim e sou estudante do mestrado em Engenharia Física curso partilhado pela Faculdade de Ciências e de Engenharia da Universidade do Porto. Desde o ensino secundário desenvolvi gosto pelas diversas áreas da Física desde eletromagnetismo, mecânica, mas também áreas de desenvolvimento de software.

  Por isso quando tomei a decisão de entrar na faculdade fiquei indecisa entre Engenharia Informática e Engenharia Física. O que me levou a optar por Engenharia Física foi o facto de ser uma área bastante abrangente que me permite desenvolver as várias áreas de interesse. 

  Iniciei a Licenciatura em Engenharia Física em 2020 e durante três anos desenvolvi bastante as capacidades intelectuais de raciocínio e autonomia. São anos bastante teóricos que nos preparam para posteriormente sermos capazes de nos aperfeiçoarmos em qualquer área científica. Apesar de serem anos exigentes são bastante enriquecedores e que aguçaram ainda mais o meu gosto pela física começando já a desenvolver gosto por áreas mais especificas em particularm computação quântica, eletromagnetismo e software.

  Ainda durante a licenciatura tive a oportunidade de fazer um projeto de investigação em inteligência artificial quântica no âmbito de uma Bolsa Gulbenkian ‘Novos Talentos 2022’. Foi uma oportunidade extraordinária em que tomei pela primeira vez contacto com uma área de machine learning que se veio a relevar das minhas favoritas. Foi também uma oportunidade excelente para tomar contacto com outros estudantes de física de todo o país com diversas experiências e criar amizades que perduram. 

  Após este projeto inteligência artificial passou a ser uma das áreas que mais me fascina e por isso, juntei-me em julho de 2023 à empresa Smartex AI aonde me encontro à seis meses. Estou a trabalhar como Data & Business Analyst aonde posso desenvolver diversas vertentes desde o contacto,

 embora indireto, com clientes até ao desenvolvimento de ferramentas para automatização de processos. Neste período adquiri competências fundamentais desde autonomia e trabalho em equipa, conhecimentos avançados em bases de dados e analise de dados, aplicação de modelos de inteligência artificial para automatização de tarefas e sobretudo um conhecimento mais profundo do trabalho em empresa e das diversas equipas que trabalham juntas para um objetivo comum. De facto, esta foi um dos maiores desafios que tive, mas também dos mais gratificantes pois é uma empresa bastante jovem de espírito aberto onde somos potenciados a desenvolver o nosso talento e apoiados em todos os momentos, numa equipa bastante divertida, trabalhadora e humilde. Tive a oportunidade de desenvolver imensas competências de

relacionamento interpessoal, responsabilidade, confiança, gestão do tempo e problem solving.De facto, um curso na área da Física é uma mais-valia para os aficionados pelas ciências e engenharia. É um curso bastante exigente, mas que nos fornece ferramentas essenciais para o nosso percurso profissional quer seja em ambiente empresarial ou de investigação/académico. O mais importante é não desistir se realmente é uma área que vos fascina e tentar sempre envolver-se em atividades que permitam potenciar o conhecimento adquirido e desenvolver apetências pessoais. O contacto com outros estudantes, investigadores, engenheiros e professores é essencial para terem conhecimento das diversas oportunidades que têm disponíveis e para que possam otimizar todo este percurso desafiante, mas extremamente gratificante.

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